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Produtores rurais consideram insuficientes as medidas anunciadas pelo governo federal na Expointer 2025

Após vaias em discursos das autoridades, grupo ainda levou balões pretos e coroas de flores

Grupo ocupou parte da arquibancada ao lado do pavilhão principal do Parque de Exposições Assis Brasil | Foto: Pedro Piegas

Vaias, nariz de palhaço e mais vaias. Quem acompanhou a abertura da 48ª Expointer, na pista principal do Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio, perto do espaço ocupado pelos produtores rurais pouco conseguiu ouvir os discursos de autoridades como o governador Eduardo Leite e os ministros da Agricultura e Pecuária, Carlos Favaro, e de Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira.

A manifestação, que já estava preparada para ocorrer, tornou-se ainda mais inflada com o anúncio antecipado das medidas do governo federal para o setor, feito pelo presidente Luiz Inácio da Silva enquanto o evento ocorria. “Queremos solução”, “enrolão” e “estamos de luto” eram algumas das frases proferidas pelos produtores. Ao final da abertura oficial, o grupo ainda levou coroas de flores e largou balões pretos para lamentar a falta de apoio.

O empresário Arlei Romero, que representa o movimento Securitização Já, formado por produtores rurais através da Associação dos Produtores e Empresários Rurais e os Sindicatos Rurais, aponta que as medidas, apesar de poderem ser acessadas por alguns, ainda são insuficientes. Ele ainda lamentou que o anúncio foi feito sem antes uma conversa final com o grupo, que tem participado das negociações com o governo federal.

“Os números são totalmente insuficientes. A medida ainda tem juros altíssimos, o prazo é irrisório. O RS vem de cinco frustrações de safras em seis ciclos. Existe uma narrativa de que o endividamento do produtor rural é causado pela questão climática. Ela é importante, mas também precisamos discutir a forma como as instituições financeiras conduzem as políticas públicas”, citou.

Além disso, Romero apontou que o grupo aguardará a divulgação de todos os detalhes da medida provisória (MP) para seguir em negociações com o governo federal. “Ainda temos que aguardar a edição e a publicação da MP para ter acesso ao que vai constar. Participamos de uma reunião onde o acordado seria que receberíamos essa minuta para propor alguma melhoria. Não foi o que ocorreu e ela já está sendo anunciada”, completou.

Para o setor, a melhor forma de resolução seria a partir da aprovação do Projeto de Lei 5122/2023, que trata sobre a liquidação, anistia, renegociação e rebate de dívidas originárias de crédito rural para produtores rurais. O texto já foi aprovado pela Câmara dos Deputados, mas está “engavetado” no Senado, segundo Romero. “Nós ajudamos a construir esse projeto, ele é mais abrangente e não tem impacto nas contas do governo”, afirmou o empresário.

“Movimento apartidário”, diz representante

Em meio aos produtores, algumas figuras políticas se faziam presentes, entre elas, os deputados federais Luciano Zucco e Marcel Van Hattem, a secretária municipal de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Eventos de Porto Alegre, Fernanda Barth, puxando alguns cânticos dos manifestantes. Entretanto, Romero afirma que o movimento organizado pelos produtores rurais é apartidário e orgânico.

“Os políticos que estão ali participando têm liberdade de ir e vir. Provavelmente não estavam se sentindo bem lá na tribuna. Obviamente, recebemos todos que estão apoiando a causa de braços abertos. Mas o movimento não tem nenhuma vinculação política. Até porque entendemos que essa é uma ação de Estado, que vai atender tanto a esquerda, como a direita e o centro. Estamos na luta para todos os produtores”, salientou.

Apesar disso, o grupo mantinha críticas direcionadas em alguns discursos e falas, como vaias quando os nomes do governador Leite ou do presidente Lula eram mencionados. Em determinado momento, o ministro Paulo Teixeira respondeu afirmando que “as vaias são permitidas em uma democracia”. A réplica veio com gritos contrários ao presidente. Leite também citou que o protesto era legítimo, mas não poderia sofrer com uma tentativa de “captura política” visando a eleição de 2026.

O representante do movimento destacou que a reclamação ocorreu pois são figuras com responsabilidade constitucional para atender as demandas da sociedade. “Como não estão fazendo isso, existe a vaia. Se resolverem, receberão aplausos. A parte do governo estadual é articular pressionar o governo federal para tomar as medidas necessárias. Afinal de contas, quem tem a capacidade de dar o aporte para resolver é a União”, finalizou.

Fonte: Correio do Povo