A tempestade é de granizo e os telhados são de vidro. A falta de proteção das lavouras e criações gaúchas, exatamente num momento em que os produtores mais precisam, gera um sentimento de desamparo, desânimo e preocupação entre quem depende daquilo que planta ou cria para sobreviver. A queda no número de contratos ultrapassou os 30% na safra 2024/2025, conforme dados do Banco Central. Entre os motivos estão o alto endividamento dos produtores rurais, devido às sucessivas estiagens, e a redução do valor dos recursos do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR).

Se escolhêssemos uma expressão para caracterizar a atual situação do seguro rural no Rio Grande do Sul ela seria, sem sombra de dúvida, contradição: no exato momento em que os produtores rurais gaúchos mais precisam de proteção para lavoura e pecuária, mais dificuldades encontram para acessá-la. Em tempos de crise climática, com a ocorrência de seguidas estiagens e de enchentes recorrentes, o que se verifica é um cenário de retração severa na contratação de seguro rural por conta de fatores como crescente endividamento dos produtores, aumento do prêmio de seguro, decorrente da elevação do risco percebido pelas seguradoras e corte na verba de subvenção por parte da União.
“Essa redução acontece por vários motivos: pela não destinação por parte do governo federal de recursos suficientes ao Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) e pelo grande volume de sinistros climáticos que levou algumas seguradoras a deixarem o mercado gaúcho, e muitos agricultores passaram a fazer financiamentos diretamente em cooperativas e cerealistas, sem contratar seguro”, afirma o secretário executivo da Federação dos Agricultores do Rio Grande do Sul (Fetag/RS) e especialista em crédito rural, seguro e Proagro, Kaliton Prestes.
Dados da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) apontam que, em termos de seguro rural, que abrange as modalidades agrícola, pecuária, aquícola e florestal, entre outros, de janeiro a agosto de 2025, houve recuo de 34,4% nas indenizações pagas no Rio Grande do Sul, chegando a R$ 381,2 milhões, frente ao mesmo período, em 2024. Além disso, foi registrada queda de 6,1% no faturamento das seguradoras, que contabilizaram R$ 1,4 bilhão, dado que colocou o Estado em terceiro lugar no ranking nacional, com 15,7% de participação.
No Brasil, o faturamento foi de R$ 8,7 bilhões (-6,7%) com o pagamento de R$ 3,1 bilhões em indenizações (-7,5%). Um levantamento de 2024, também da CNseg, aponta que a arrecadação chegou a R$ 2,3 bilhões no Rio Grande do Sul, com retração de 4,5% em relação ao período anterior, resultado que manteve o Estado em primeiro lugar no ranking nacional de arrecadação do produto, com 16% participação. Enquanto isso, as indenizações caíram 50,7%, com 694,9 milhões, colocando o Rio Grande do Sul na terceira posição, com 17% de participação nacional. No Brasil, em 2024, o seguro rural arrecadou R$ 14,2 bilhões, crescimento de 1,5% sobre o ano anterior. As indenizações pagas somaram R$ 4,2 bilhões, retração de 10%.
O presidente da Comissão de Seguro Rural da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), Glaucio Toyama, afirma que o contexto é bastante desafiador em 2025. “Toda essa situação de recuperação judicial no mercado de agro trouxe para o cenário de crédito um impacto grande em liberação de novos recursos. Não foi só no Rio Grande do Sul, pois outros estados também tiveram um impacto bastante forte por conta dessa situação toda de inadimplência”.
Já os dados da CNseg quanto ao seguro agrícola, ou seja, a modalidade que se refere à proteção exclusivamente de lavouras, apontam que, entre janeiro e agosto de 2025, no Rio Grande do Sul, o faturamento teve queda de 14,8% com R$ 536,4 milhões, colocando o Estado em segundo lugar no ranking nacional, com 19,6% de participação. O valor das indenizações também teve queda de 16,9%, pagando R$ 196,4 milhões, posicionando o estado na terceira colocação nacional, com 13,7% de market share.
O seguro agrícola arrecadou nacionalmente R$ 2,7 bilhões (-20,9%). Em indenizações, foram pagos R$ 1,4 bilhão (-19,4%). Os dados de 2024 apontam que, no Rio Grande do Sul, a arrecadação chegou a R$ 858,7 milhões, retração de 21% em relação ao período anterior. Com o resultado, o Estado ficou em segundo lugar no ranking nacional de arrecadação, com 18,5% de participação. Enquanto isso, as indenizações ficaram em 275,9 milhões (-76,8%), colocando o Rio Grande do Sul na quarta posição, com 15,1% de participação nacional. No Brasil, em 2024, o seguro agrícola arrecadou R$ 4,6 bilhões (-17%). As indenizações pagas somaram R$ 4,2 bi, retração de 10%.















